Quem é Você?
(Uma palestra pública, pelo Dr. Deepak Chopra em1993)
O que eu gostaria de fazer, se eu pudesse, é dar à vocês uma idéia de quem são vocês. A idéia comum de quem nós somos vêm da superstição do materialismo. Nós normalmente pensamos em nós como um corpo físico que aprendeu como pensar e com uma espécie de ego encapsulado na pele que está confinado num saco de carne e osso e que passa o tempo de uma vida espremido no volume de um corpo. Esta idéia de quem nós somos vem até nós, porque interpretamos a realidade através dos nossos sentidos. Nós pensamos que nossos sentidos nos dão uma imagem precisa do mundo. Nós temos esta idéia de que a experiência sensorial é o teste crucial da realidade, que somente se eu puder tocar alguma coisa é que ela realmente existe, caso contrário isto está apenas “na minha imaginação”. Mesmo do ponto de vista do “senso comum”, nós sabemos que isto não é verdade. Meus sentidos me dizem que a terra é plana e ninguém acredita mais nisso. Meus sentidos me dizem que o chão no qual eu estou de pé está parado, mas eu sei que ele está se movendo através do espaço em uma velocidade estonteante. Meus sentidos me dizem que certas coisas têm uma certa textura, cor, cheiro – mas o que vem a ser é que o que eu percebo dessas coisas não é realmente sua natureza intrínseca, é a resposta do observador. É como os meus sentidos decodificam alguma coisa que é muito mais vasta, mais abstrata e bastante inefável.
…Neste momento, 99% das pessoas nesta sala estão recebendo menos do que um bilionézimo dos estímulos que estão presentes na sala. Os estímulos que as pessoas realmente recebem é governado pelo conceito daquilo que você pensa que existe “lá fora”. Se você não tem o conceito, você não vai perceber. Com efeito, isto não existe para você. O que nós chamamos realidade é realmente o resultado de uma coleção de nossas experiências subjetivas. Se acontecer da gente concordar com aquelas experiências subjetivas, nós chamamos isto de “ciência objetiva”.
Mas, “ciência” não é nada mais do que um método de explorar o mapa daquilo que nós pensamos que é a verdade. Ciência não é um método para explorar a verdade. Ciência é uma extensão do nosso mapa da realidade.
…O modelo do qual nós pensamos termos nos originado está congelado num modelo obsoleto- modelo que aparece ao corpo como uma estrutura anatômica congelada. De fato, o corpo humano (como também tudo na criação) é um rio de inteligência, energia e informação e que está constantemente se renovando durante cada segundo desta existência. O você real, que é permanente, não pode entrar no mesmo corpo duas vezes. A cada segundo, você está renovando seu corpo mais facilmente do que antes. O corpo físico que você tem agora não é o mesmo que você tinha 20 minutos atrás.
Uma pessoa pode examinar um número de processos psicológicos para ver como isto é literalmente verdadeiro. Apenas o ato de respirar : a cada inspiração você inala 10²² átomos do universo. É uma quantidade astronômica de material cru que vem de todos os lugares e termina como estrutura celular renovada do corpo. A cada expiração, você está expirando 10²² átomos do universo, que tem sua origem em todos os lugares dentro do seu corpo. Você está literalmente respirando pedaços dos seus órgãos, tecidos e estruturas de DNA. Tecnicamente falando, nós estamos compartilhando intimamente nossa estrutura interna uns com os outros o tempo todo. Você não pode reivindicar exclusividade sobre o seu corpo.
Neste momento, no seu corpo físico, você tem mais de um milhão de átomos que já estiveram no corpo de Cristo, Maomé, George Bush e todo mundo. Todo mundo que alguma vez existiu. Parte do material cru deles está no seu corpo. Apenas nas últimas três semanas, um quatrilião de átomos entraram no seu corpo, depois de ter passado através dos corpos de cada espécie viva no planeta . De acordo com os estudos radioativos isótopos, você regenera quase todo o seu corpo em um ano. Noventa e oito por cento de todos os átomos do seu corpo são substituídos em menos de um ano. Você literalmente faz um fígado novo a cada seis semanas, uma nova pele a cada mês, uma nova parede do estômago a cada cinco semanas, um novo esqueleto a cada três meses, as células do cérebro a cada ano e o D.N.A (que guarda a memória de milhões de evoluções) que vem e vão a cada seis semanas. Se você quiser prestar conta de cada átomo no seu corpo, são todos substituídos em menos de 2 anos. Se você pensa que é o seu corpo físico, você certamente tem um problema. De qual corpo está falando? O que aconteceu com o corpo do ano passado? Voltou a poeira de onde ele veio uma vez? Está morto e ainda assim eu não morri? Este é o primeiro grande insight que a ciência está começando a compreender. Eu estou constantemente vivendo a morte física do corpo, neste exato momento. Talvez o corpo seja um lugar o qual as minhas memórias chamam de “casa” pelo tempo de existência. Em outras palavras não é a matéria quem produz Consciência – é o contrário. É a Consciência quem produz a matéria. Consciência que constrói e se torna matéria física. Será isto apenas uma especulação filosófica oriental? Eu gostaria de dizer que este é um insight científico. Se você for à um físico e perguntar: “ Qual é a verdadeira natureza da realidade física? O físico pode te dizer que a verdadeira natureza da realidade física é que ela é não física. Se você olhar para qualquer coisa “material” você verá que ela é feita de átomos, que são feitos de partículas movendo-se à uma alta velocidade em torno de enormes espaços vazios- estas partículas não são objetos materiais de modo algum. São flutuações de energia e informação que ocupam um enorme vazio de informação e energia. Visto através dos olhos de um físico e não através do artefato da experiência sensorial humana, o corpo humano (ou qualquer outra coisa física) é proporcionalmente tão vazio quanto o espaço intergaláctico. Se você pudesse ver alguma coisa como ela realmente é você veria um enorme vácuo com alguns pontos fragmentados (eles mesmos sendo energia) e algumas descargas elétricas (mais energia). O fato é que 99,99999% do corpo humano ou de qualquer coisa é basicamente espaço vazio. O 0,00001% que parece material também é espaço vazio.
A coisa toda é feita através do nada. O material essencial do universo é aquele que não é material de forma alguma. A “coisa” essencial do Universo é “não-coisa”. O aspecto mais interessante disto é que não apenas é “não coisa” mas está pensando “não coisa” porque nosso espaço interior não é só um vácuo- é o útero da criação- a natureza vai para o mesmo lugar para criar uma galáxia ou um corpo humano assim como um pensamento, porque o que é um pensamento, senão um impulso de energia e informação vindo do mesmo Campo Unificado que estrutura e engendra todas as forças da natureza que, em última instância, é experienciada como “ realidade material”?
…Por si só, o campo está além de ambos “corpo” e “mente”. O “pensador” não está no reino do corpo ou mente- o campo é o “pensador” atrás do pensamento, assim como, a causa da mente e do corpo. Um grande pensador Sufi uma vez disse: “Além das idéias de fazer certo ou fazer errado, existe um campo – eu encontro você lá.” Einstein falou sobre o campo. Ele disse que não é um modelo atual para eventos de espaço-tempo que nós chamamos “realidade material”, mas um campo de potencialidade. É um continuo de todas as possibilidades e estados de energia de informação que subseqüentemente se manifesta em eventos de tempo-espaço.
…Na literatura Védica, os Rishis disseram: “ Quando eu descobri quem eu realmente era eu descobri que eu não estou na mente, mas a mente sou eu: eu não estou no corpo, mas o corpo sou eu; eu não estou no mundo, mas o mundo sou eu; curvado de volta dentro de mim eu crio de novo e de novo; em essência, eu sou Aquilo que cria tudo Daquilo- eu sou Aquilo, você é Aquilo, tudo isto é Aquilo e isto é tudo que há; se você descobrir Aquilo, então você tem tudo.”
…Existem alguns experimentos que eu gostaria de falar a respeito porque eles são cruciais para este entendimento. Um experimento foi publicado pelo Dr. Herbert Specter, pelo Instituto Nacional de Saúde, aonde ele deu à ratos uma injeção de um químico chamado “polyIC” que estimula o sistema imunológico. Ele fez com que esses ratos cheirassem cânfora ao mesmo tempo. Depois do tempo passar, ele descobriu que sempre que estes ratos cheiravam cânfora , eles estimulavam o seu próprio sistema imunológico. Outros cientistas verificaram este trabalho. Se você contaminasse os ratos com “bactéria de doença” e fizesse com que eles cheirassem cânfora, eles não ficariam doentes. A diferença crucial entre vida e morte é a interpretação da memória do cheiro da cânfora.
A interpretação da memória. Isto tem qualquer sentido para nós? Você aposta que sim, porque isto é tudo que a gente faz. Nós estamos constantemente interpretando nossas memórias. A média dos humanos pensa mais ou menos 60.000 pensamentos por dia. O que é desconcertante é que mais ou menos 85% dos pensamentos que você teve hoje são os mesmos que você teve ontem. Humanos se tornaram “bandos de reflexos condicionados” constantemente reestimulados e provocados pela mídia, pessoas e circunstâncias nos mesmos eventos quânticos, químicos, resultados comportamentais e experiências de vida. Nós nos tornamos “vítimas” da mesma repetição das nossas memórias obsoletas. A ironia é que o seu atormentador de hoje é o você que sobrou de ontem.
Imagine que o edifício que nós estamos hoje é feito de tijolo e você tem a habilidade de mudar cada tijolo do edifício uma vez ao ano- que é o que nós fazemos com o nosso corpo físico. Você pergunta: “Bem, se eu estou realmente reconstituindo o meu corpo inteiro a cada ano, então porque eu ainda tenho este problema nas costas e esta artrite? A resposta é que através da resposta condicionada e apego ao conhecido, nós engendramos os mesmos eventos quânticos através da nossa própria auto-interação que têm o mesmo resultado. Se nós lermos a antiga literatura Védica da Índia, em um lugar o Sr. Shiva diz: “Veja o mundo como se fosse pela primeira vez, veja através dos olhos de uma criança e subitamente descubra que você está livre”. Escravidão não é outra coisa, senão ver o mundo através da camuflagem de idéias pré- concebidas, noções, expectativas, interpretações, rótulos, descrições, definições, avaliações, análises e finalmente com julgamento. Se você pudesse ver o mundo sem julgamento, você o veria como uma criança – fresco, com infinitas possibilidades, todas contidas num Eterno contínuo. O que você precisa para ser livre não é o desconhecido – o que você precisa para ser livre é o conhecido. Liberdade do conhecido é o que nós precisamos. Nós precisamos pular no desconhecido a cada segundo das nossas vidas, porque o Conhecido não é outra coisa do que padrões rígidos de condicionamento do passado- memórias e pesos do passado. O Conhecido está dentro da Consciência temporal. A Consciência temporal é a consciência da Auto-Imagem.
Através da nossa própria interpretação nós abandonamos o self pela auto-imagem. A auto-imagem não é nada mais do que uma máscara social, o verniz de proteção e a máscara através da qual nós nos escondemos. A auto-imagem tem somente um objetivo: ela quer se reforçar a si mesma o tempo todo. A auto-imagem tem uma consciência temporal, aonde cada ação comportamental é provocada por antecipação de uma resposta ou em perseguição de uma memória.
Vá além da consciência temporal e você vai encontrar o self. O self é consciência sem tempo, porque o self está além do corredor do tempo-espaço, energia e matéria. O Self tem uma consciência sem tempo na qual a vida é supremamente concentrada no presente. Na literatura Védica, os Rishis dizem: “Eu não me preocupo com o passado, eu não estou sobrecarregado pelas culpas e memórias do passado, eu não antecipo o futuro ou tenho medo dele, porque a minha vida está supremamente concentrada no Presente – a resposta certa para cada situação acontece para mim como ela ocorre – porque construído dentro de meu Self está um processo, que é ainda mais preciso do que pode ser encontrado dentro das limitações do pensamento racional – não existe destino pior do que ser pego em mecanismos de racionalidade”. Quando uma pessoa escapa dos mecanismos da racionalidade, então uma pessoa escapa da prisão do condicionamento tempo-espaço e causa. Você deve ir além do intelecto. Experiência sensorial é o teste crucial da realidade.
…Então, se nossos corpos são idéias auto-engendradas, a pergunta é: Quem está tendo estas idéias? Eu gostaria de dizer para você que esta pessoa que “faz a escolha” –não é local – você não pode alfinetá-lo em qualquer lugar, porque ele está em todo lugar e em nenhum lugar ao mesmo tempo. Você não pode encontrar o local daquele que decide movimentar o seu braço. Você pode encontrar no cérebro a execução do comando, mas não daquele que decide movimentar o braço. Onde está aquele “ que faz a escolha”? Aquele que faz a escolha está entre os espaços entre os nossos pensamentos.
Este espaço contém escolhas infinitas e em cada pequeno espaço entre cada pensamento existe mim sentado lá, como parte do “pensador atrás dos pensamentos”.
… Aquele espaço é a janela e o vortex transformador através do qual a mente individual se comunica com a mente Cósmica. Este processo é a restauração da memória do todo – de quem nós somos.
…Eu sou o Espírito Ilimitado que está presente em cada pedacinho da manifestação. Eu apenas escolhi estar aqui por esse tempo – um acontecimento de tempo-espaço do contínuo da Eternidade. Ter a restauração desta memória, no nível da experiência, é ser livre e inteiro. Você pode realizar qualquer coisa e tudo, como a natureza faz, sem esforço, apenas sendo – o mundo vai se oferecer para você – não há escolha.
Tradução: Ma Devam Prashanti