Entrevista Veetman

Preparação para uma morte consciente e transformadora

“A morte é o portal para experienciarmos a paz e a total união com o Todo.
 É o ponto espiritual mais elevado da vida, a porta mais disponível
para se experienciar nossa verdadeira natureza”.

Veetman

 “Durante muitos anos, trabalhei como terapeuta espiritual com pessoas que desejavam experienciar um significado mais profundo em suas vidas e uma conexão verdadeira com as dimensões internas da existência, a conexão com a essência. Fiquei cada vez mais convencido de que o homem sempre se depara com níveis mais profundos do Ser quando está no limiar entre a vida e a morte”, afirma Veetman Masshöfer, diretor do Instituto Living-Dying (Vivendo-Morrendo), sediado na Alemanha.

Ele e sua esposa, a astróloga Sukhi Masshöfer chegam ao Brasil para oferecer um treinamento intensivo intitulado Morte: Mistério, Realidade e Ilusão.
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O treinamento é recomendado tanto para aqueles que estão em contato com a morte quanto para aqueles que sentem que gostariam de trabalhar com isso ou cuidar de seus amigos e amados quando o tempo deles chegar.
“Somente podemos ajudar se tivermos autenticamente experimentado que a morte é só uma transição e que nossa essência é eterna”, diz Veetman.
No treinamento, busca-se perceber a morte como oportunidade para um profundo processo transformador, e que a consciência diária da morte e da impermanência é uma companhia amorosa, trazendo a urgência do amor e da consciência para nossas vidas.

ENTREVISTA

Veetman e a morte como benção:

- Gosto muito de trabalhar com pessoas que estão profundamente mergulhadas na consciência. Sinto-me muito bem nessa área e em condições de oferecer apoio Nos últimos anos, descobri uma beleza profunda neste trabalho, sendo este o tempo no qual eu mesmo mais me transformei.

– Dividi os estágios da morte em três: caos (todos os estágios quea Dra. Kübler-Ross demonstrou, mais algumas profundas ocorrências internas da experiência de nossa existência separada e o profundo medo que sempre acompanham tais experiências),devoção e transcendência. O processo que vai do ”caos à devoção e à transcendência” ultrapassa os cinco estágios clássicos da morte,

- Quando comecei o trabalho de acompanhamento com pacientes terminais, os Estágios da Morte, descritos por Elisabeth Kübler-Ross, eram uma importante diretriz. Isso me permitiu ter um olhar mais profundo sobre o que o paciente experienciava quando passava pelo estágio da aceitação. Anteriormente, eu ouvia com frequência de alguém que tinha atingido a fase de aceitação: ”Bem, agora sei que vou morrer. Vamos acabar logo com isso. Já aceitei que vou morrer. Não quero mais ficar aqui sentado, esperando”.Percebia que  sempre havia medo e ”um sentimento relativo à morte, enquanto ainda estou vivo”. Reconheci que ainda havia muito trabalho após a fase da aceitação. A aceitação ainda é uma postura do ego.

– O ponto de virada é aquele do qual não mais podemos recuar perante a força de nosso ser interno, nosso Self mais profundo. Acolhemos este ponto braços abertos. Depois deste ponto, vejo que as pessoas encontram a devoção de sua verdade espiritual e relaxam em uma profunda paz natural – as dimensões do Divino começam a preencher sua consciência.Parecem estar numa rede na qual podem se deitar e relaxar, experienciando uma grande segurança e bem-estar. Vejo indivíduos que começam a viver quando estão morrendo.
- Existem entendimentos brilhantes de Ken Wilber e Michael Washburn sobre o processo de transformação espiritual e da alma, e vejo que eles também descreveram esses processos mais profundos e mais internos que os indivíduos vivenciam. A sabedoria e os ensinamentos profundos dos tibetanos ajuda muito no processo.

– Durante muitos anos, reconheci a orientação de meus mestres espirituais de que tanto as circunstâncias e as consequências do processo da morte quanto as da meditação são quase idênticas. Ocorre uma retirada deste mundo, uma posição de humildade, de quietude interna e uma busca profunda pelo verdadeiro Self.

- Em cada experiência, morte e meditação, somos transformados. Na meditação, escolhemos nos transformar. Na morte, somos escolhidos. Ambas permitem que o sentimento de self se estenda além da estreita identificação com o ’eu’ pessoal, que sempre acreditamos ser.           

– Consideramos a morte como uma tragédia em nossa vida. Hoje, vejo a morte como uma jornada segura na qual qualidades como a graça surgem naturalmente.
 

- Morrer nunca é algo fácil. Com frequência há sofrimento físico, mesmo quando quase não existam mais razões para isso, de acordo com a medicina. E sempre há um sofrimento de alma. Ninguém deseja morrer, mesmo quando a morte possa ser uma liberação de circunstâncias pouco dignas. E a passagem da tragédia que sentimos quando recebemos um diagnóstico fatal até a experiência da Graça, quando ultrapassamos o limiar entre a vida e a morte, é difícil e normalmente solitária, até que atingimos a devoção.  

– Observei especialmente duas coisas quando acompanhava alguém em sua última semana, dias ou horas. A primeira é: morrer é indolor. Assim como o tempo da doença e de despedida deste mundo é difícil, o momento da morte é isento de dor.

- Ao longo da transformação de uma doença terminal, os indivíduos alcançam uma consciência profunda e uma visão mais ampla da vida e da morte. Seu ser está pronto para ir da periferia rumo ao centro mais profundo. Muitos falam de ’descansar em Deus’, sentem-se ’preenchidos de luz’ e rodeados pela presença de pessoas queridas que já morreram ou por símbolos internos do Divino que lhes são caros.

– Inicialmente, quando passei a perceber o profundo relaxamento das pessoas à beira da morte, soube que também poderia observar outras qualidades nelas. No limiar entre a vida e a morte, começavam a surgir qualidades como o retorno a seu próprio interior, um brilho, um sentimento profundo de perfeição e ordem, de entendimento, amorosidade, quietude, e uma experiência do Divino.

- Essas são qualidades humanas elevadas que normalmente não estão presentes no dia a dia ou em um sentimento pequeno e contraído do self. Cada uma delas é uma qualidade de um estado de consciência mais expandido e de uma identidade maior. É exatamente a presença delas que nos permite reconhecer Deus como sua fonte. 

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O treinamento orienta-se sobre os vários aspectos de se estar com a morte e do morrer, e da possível cura em situações como tristeza profunda, perda, crise, dor, velhice e mudança:
·        experiência pessoal do mistério da morte e morrer
·        exploração do nosso ser essencial: Quem está morrendo?
·        os estágios da morte: caos,entrega e transcendência.
·       conhecer os passos de como a consciência está deixando o corpo.
·        o medo da dor, solidão, perda, medo do desconhecido.
·        transformar dor e sofrimento em compaixão.
·        cura através do amor e perdão
·        a arte de soltar: liberando desejos e apegos
·        a graça de morrer
·        confrontando a morte : completar a vida
·        tristeza profunda, perda e separação
·        aceitação: uma porta para a transformação
·       respiração: ponte entre o corpo e alma
·        a cura suprema: da separação para a unidade
·        profundo relaxamento e meditação como preparação para uma morte consciente
·        vivendo e morrendo com vulnerabilidade e força
·      revisão de vida consciente
·       reconhecendo e desenvolvendo nossa essência humana
·        vivendo com a impermanência, mudança e insegurança
·        desenvolvendo uma presença incondicional em face da morte, celebrando a morte e a eterna mudança

 Entrevista completa:

 Como você começou esse trabalho com os pacientes terminais?

Durante muitos anos, trabalhei como terapeuta espiritual com pessoas que desejavam experienciar um significado mais profundo em suas vidas e uma conexão verdadeira com as dimensões internas da existência, a conexão com o Divino. Desde o início de minha busca espiritual em 1978 já tinha interesse pelo tema. Sentia-me atraído pelo mistério e estava cada vez mais convencido de que o homem sempre se depara com níveis mais profundos do Ser quando está no limiar entre a vida e a morte.
Gosto muito de trabalhar com pessoas que estão profundamente mergulhadas na consciência. Sinto-me muito bem nessa área e em condições de oferecer apoio. Nos últimos anos, descobri uma beleza profunda neste trabalho e vejo esse tempo como a parte da vida em que até mesmo eu realmente mais me transformei. É difícil dizer quem ajuda quem, quando se trabalha com indivíduos que estão à beira da morte.
Mesmo que os hospícios estejam muito distantes de integrar, no fim da vida, as dimensões espirituais da morte ao trabalho diário de cuidado, recomendaria a todos que queiram participar de uma profunda experiência de vida que trabalhassem por um período em um hospício ou em uma prática de acompanhamento da morte.

. Como você consegue conciliar sua experiência com esse trabalho mais holístico e transpessoal, sua experiência extensiva de tantos anos com seu mestre espiritual e a arte de morrer, com sua vida e seu trabalho?

A psicologia transpessoal une o conhecimento da psicologia de desenvolvimento ocidental com o conhecimento da psicologia espiritual, como encontramos nas tradições de sabedoria de diversas religiões. Reconhecemos o self humano, ou ego, e expandimos nosso conhecimento para dimensões que vão além do sentimento pessoal do self.

Mesmo quando cada uma empreende uma jornada totalmente única, no geral a psicologia transpessoal nos oferece um mapa com indicações conhecidas dessas paisagens internas. Meu background em terapia espiritual e meditação me oferecem uma coerência para compreender as profundas transformações que observo em vários indivíduos que estão à beira da morte e que morrem.

Vejo como o sofrimento psicológico arranca os homens do mundo que eles conheciam e do sentimento de self com o qual eles se identificavam. Em certos aspectos, poderíamos dizer que conviver com uma doença terminal é um processo cujos níveis vão sendo dissolvidos um após o outro por aquilo que acreditávamos ser e que, portanto, permite-nos vivenciar um sentimento de self mais real, mais essencial e mais expandido.

25 anos de meditação me deram a capacidade de simplesmente ESTAR com as pessoas quando elas estão morrendo, e ficar presente por várias horas, tão próximo quanto possível desse profundo processo transformador que elas experienciam. Acredito que dos recursos de que dispomos como seres humanos o menos usado é o dom da atenção. Todos sabem como alguém se ilumina à luz do amor incondicional e da atenção absoluta.

Às vezes ouço alguém afirmar: ’Não sei o que dizer’. Tudo que posso dizer é: ’não há nada a fazer ou a dizer’… Trata-se de realmente estar presente e de doar o valioso dom de sua atenção. É bem provável que os vários anos de meditação me permitem estar na presença do Divino e compartilhar com o moribundo a intensidade dessa Presença. Algumas vezes, quando estou com um moribundo, parece existir uma única presença. E novamente é difícil dizer quem é que existe.

Através da benção desse trabalho e de minha prática meditativa, não consigo separar minha vida disso. Tudo está interligado; na maioria das vezes de uma maneira positiva e saudável. As pessoas me perguntam com frequência se acompanhar moibundos não é algo deprimente. Minha resposta é: ’não’! É difícil, pois normalmente existe muita intensidade e medos, mas estar totalmente presente com alguém significa compartilhar uma união que aproxima ambas as almas.

Vejo algo em mim e também no outro: uma tendência de não prestar atenção suficiente às nossas próprias dores e preocupações. Existe um processo contínuo, a busca de um equilíbrio entre uma existência saudável para o outro e uma existência para nós mesmos. Geralmente, embora nem sempre, elas se unem.

. O que você quer dizer com a benção ao morrer’?

O processo que vai do ’caos à devoção e à transcendência’ ultrapassa os cinco estágios clássicos da morte, como Kübler-Ross descreveu. O processo integra uma vasta dimensão ao processo de morte, incluindo uma análise do curso e a dinâmica de transformação durante a morte.

Todos nós levamos nossas experiências de vida, pensamentos e entendimentos que nos alimentaram para cada vivência. Quando comecei com o trabalho de acompanhamento dos moribundos, os Estágios da Morte, descritos por Elisabeth Kübler-Ross, eram uma importante diretriz. Isso me permitiu ter um olhar mais profundo sobre o que o moribundo experienciava quando passava pelo estágio da aceitação. Anteriormente, eu ouvia com frequência de alguém que tinha atingido a fase de aceitação: ’Bem, agora sei que vou morrer. Vamos acabar logo com isso. Já aceitei que vou morrer. Não quero mais ficar aqui sentado, esperando’.

Via que sempre havia medo e ’um sentimento relativo à morte, enquanto ainda estou vivo’. Reconheci que ainda havia muito trabalho após a fase da aceitação. A aceitação ainda é uma postura do ego.

O Ponto de Virada da  Devoção

Talvez na consciência da solidão derradeira ainda seja possível um movimento vigoroso, profundo e muito importante para uma devoção espiritual em um ponto da alma. Reconheço um ponto de virada nos indivíduos, onde essa força impressionante, maior do que o pequeno sentimento de self, uma forca,qual nos  oferece uma resistência extrema e terrível, ate que finalmente é reconhecida como aquilo que sempre desejamos.

O ponto de virada é aquele em que não mais podemos recuar perante a força de nosso ser interno que se abre para nós, o qual reconhecemos como nosso self mais profundo e acolhemos de braços abertos. Depois deste ponto, vejo que as pessoas encontram a devoção de sua verdade espiritual e relaxam em uma profunda paz natural, como se as dimensões do Divino que começam a preencher sua consciência fossem uma rede na qual elas podem se deitar e relaxar, experienciando uma grande segurança e bem-estar. Vejo indivíduos que começam a viver quando estão morrendo.

Dividi os estágios da morte em três: caos (todos os estágios que Kübler-Ross demonstrou, mais algumas profundas ocorrências internas da experiência de nossa existência separada e o profundo medo que sempre acompanham tais experiências), devoção e transcendência.

Existem entendimentos brilhantes de Ken Wilber e Michael Washburn sobre o processo de transformação espiritual e da alma, e vejo que eles também descreveram esses processos mais profundos e mais internos que os indivíduos vivenciam. Antigamente, achava apropriado dizer que nossa consciência no processo da morte vivencia as mesmas dimensões sutis – preenchidas por algo sagrado, como os sábios e místicos sempre conheceram ao longo da história da humanidade. Atualmente, depois de ter atravessado a porta que se abre a partir dessa afirmação, posso afirmar: ’É claro que é assim’.

. Como suas experiências na prática espiritual influenciaram sua visão da morte?

Durante muitos anos, reconheci a orientação de meus mestres espirituais de que tanto as circunstâncias e as consequências do processo da morte quanto as da meditação são quase idênticas. Ocorre uma retirada deste mundo, uma posição de humildade, de quietude interna e uma busca profunda pelo verdadeiro self.

Em cada experiência, morte e meditação, somos transformados. Na meditação, escolhemos nos transformar. Na morte, somos escolhidos. Ambas permitem que o sentimento de self se estenda além da estreita identificação com o ’eu’ pessoal, que sempre acreditamos ser.

Consideramos a morte como uma tragédia em nossa vida. Hoje, vejo a morte como uma jornada segura na qual qualidades como a graça surgem naturalmente.

. Gostaria de dizer algo sobre a Graça. 

Primeiramente, morrer nunca é algo fácil. Com frequência há sofrimento físico, mesmo quando quase não existam mais razões para isso, de acordo com a medicina. E sempre há um sofrimento de alma. Ninguém deseja morrer, mesmo quando a morte possa ser uma liberação de circunstâncias pouco dignas. E a passagem da tragédia que sentimos quando recebemos um diagnóstico fatal até a experiência da Graça, quando ultrapassamos o limiar entre a vida e a morte, é difícil e normalmente solitária, até que atingimos a devoção.

Observei especialmente duas coisas quando acompanhava alguém em sua última semana, dias ou horas. A primeira é: morrer é indolor. Assim como o tempo da doença e de despedida deste mundo é difícil, o momento da morte é isento de dor.

Ao longo da transformação de uma doença terminal, os indivíduos já alcançaram uma consciência profunda e uma visão mais ampla da vida e da morte. Seu ser está pronto para ir da periferia rumo ao centro mais profundo. Muitos falam de ’descansar em Deus’, sentem-se ’preenchidos de luz’ e rodeados pela presença de pessoas queridas que já morreram ou por símbolos internos do Divino que lhes são caros.

Também já ouvi pessoas dizendo: ’Estou completamente surpreso; estou me sentindo perfeitamente seguro’. E naqueles que não se pronunciam, vejo um profundo relaxamento em seus rostos e corpos, quando se aproximam do limiar entre a vida e a morte.

Inicialmente, quando passei a perceber o profundo relaxamento das pessoas à beira da morte, soube que também poderia observar outras qualidades nelas. No limiar entre a vida e a morte, começavam a surgir qualidades como o retorno a seu próprio interior, um brilho, um sentimento profundo de perfeição e ordem, de entendimento, amorosidade, quietude, e uma experiência do Divino.

Essas são qualidades humanas elevadas que normalmente não estão presentes no dia a dia ou em um sentimento pequeno e contraído do self. Cada uma delas é uma qualidade de um estado de consciência mais expandido e de uma identidade maior. É exatamente a presença delas que nos permite reconhecer Deus como sua fonte.

. O que acontece durante a morte?

Para quem nunca presenciou uma morte, gostaria de descrever como é. É difícil fazer isso através de palavras, pois tento descrever momentos profundos como esse, para os quais nossa língua tem muito poucas palavras que são claras e precisas. O momento da morte é pessoal e totalmente ancorado no presente, sem sentimentos relativos ao passado e ao futuro. É como se, subitamente, uma janela se abrisse e revelasse o brilho de uma consciência eterna, mas oculta, que sempre nos sustentou, mas que não percebiamos em nossa consciência normal.

O Divino, essa essência multidimensional e sagrada de nosso Ser, revela-se com toda a sua força no momento da morte. Assim como sentimos algo totalmente sagrado no nascimento, no momento em que uma nova vida toma forma, também percebemos de forma inegável a experiência do Divino durante a morte, no momento em que a vida deixa a forma. A qualidade da luz é diferente; a qualidade do Ser é diferente.

É um momento indescritível e inesquecível, em que nossa consciência se aprofunda e se expande, preenchendo-nos com uma Graça que nos ajuda a dissolver a contração que sempre chamamos de ’eu’ e a relaxar nosso Ser essencial. Essa é a segunda observação constante no processo da morte: a morte é a ocasião espiritual mais rica, bela e importante de toda uma vida, independentemente de o moribundo ter trilhado um caminho espiritual ou ter ansiado pelo Divino.

. Geralmente as pessoas me perguntam se, face à minha experiência com os moribundos, tenho  medo da morte, e como me preparo para minha própria morte.

Todos nós somos seres multidimensionais, e eu continuo trabalhando. Na medida em que ainda me identifico com meu corpo, com meus pensamentos e ego, com desejos e medos; na medida em que ainda me apego às pessoas conhecidas e ao conforto e lido com as convicções de ser separado, exatamente nessa proporção ainda temo a morte. Ou melhor dizendo, tenho medo da fase do caos e de como vou lidar com ele. Essa é uma parte de mim.

Existe uma outra parte. Já tive várias experiências da presença divina em minha vida; passei um período na companhia de meu mestre espiritual Osho e fui devidamente abençoado em diversas oportunidades, estando presente durante a morte de outras pessoas. Vivi a Graça do Divino através das experiências de morte, da devoção e do amor de outras pessoas e, através delas, minhas profundas feridas de alma foram curadas. Passei um bom tempo de minha vida na companhia de várias pessoas despertas e, através da determinação interna e da compreensão, encontrei uma paz interna na qual sempre mergulho para poder encontrar a paz e a inteligência divinas.

Na mesma proporção que essa graça cresce em mim, aumenta em mim a confiança de que poderei me dissolver em Deus durante minha morte – da mesma forma que já experienciei isso várias vezes ao longo da vida e no momento da morte de outras pessoas. Apesar de todos os medos do pequeno ’eu’ descritos anteriormente, sinto-me seguro nessa consciência.

Osho, um místico de nosso tempo, descreveu isso assim: no momento em que a onda reconhece que é parte do oceano, todos os medos da morte desaparecem perante a devoção ao oceano.

Meu propósito para minha vida e morte é viver cada vez mais presente e desperto na presença do Divino. Meditar diariamente e estar pronto para deixar tudo morrer; tudo que gere um sentimento de separação de minha querida companheira, de todos os outros seres e da vida, em todas as suas formas e desafios.

. Como é que a morte pode se transformar em um mestre para nós e devolver um sentimento sagrado para nossa vida?

As possíveis graças relacionadas à morte descritas anteriomente e que se mostram durante a abertura de dimensões espirituais no momento da morte podem nos ensinar muito sobre as graças durante a vida. Essas dimensões sagradas são como fluxos subterrâneos sempre presentes e que permeiam vários pontos de nossa vida. Muitos de nós sentimos-nos intuitivos, por estarmos rodeados pela presença do Divino e ansiamos por isso. Porém, parece que em nossa cultura perdemos a chave para ela.

Passamos nossa vida tão negligentemente na superfície! Certa vez, alguém me disse: ’vivi toda minha vida como se estivesse em um desfile de moda. Mas a morte é tão importante’. A morte desvia nossa atenção das distrações da periferia da vida e a traz para o centro de nosso Ser. O estado de alerta é a chave, enquanto a atenção focada no interior é a porta. A morte nos conduz para onde a meditação já nos leva, enquanto estamos vivos.

Um Processo de Evolução Coletivo

Vejo que coletivamente estamos passando por um processo de evolução extraordinário, no qual, através das dimensões espirituais da vida, nosso crescente círculo de conhecidos está abrindo os olhos para a graça da vida, para a poderosa Presença do Divno em cada respiração, disponível a todos. Não é irônico que aprendemos a viver à medida que aprendemos a morrer? Alguma tradição os diz que ’Deus está sempre oculto no horizonte’.

. O que a experiência da morte física, do fim da vida em uma forma física, pode nos ensinar sobre as diversas e pequenas mortes que precisamos vivenciar ao longo do caminho?

Ninguém passa impune pela vida. Devido à nossa idéia de separação e do medo resultante dela, há uma parte em nós que percebe qualquer mudança como uma ameaça. Todos nós somos confrontados em algum ponto com a perda de um sonho, com a morte de um ente querido, malentendidos, decepções, tarefas difíceis e desafios. E apesar de esse processo durante a morte de nossa existência física ser tão intenso, cada uma dessas pequenas mortes exige uma expansão de nossa consciência para além de nossa zona de conforto; exige que deixemos morrer o pequeno self que acreditamos ser e surjamos com uma consciência maior.

Cada experiência transformadora tem os mesmos elementos e traz consigo os desafios do caos, da devoção e da transcendência. Num primeiro momento, toda transformação é difícil para nós. O caos é aquilo que experienciamos psicologicamente quando resistimos. Nossa tendência é a de nos agarrarmos àquilo que conhecemos.

Especialmente quando nos agarramos ao nível do ego mental – o que a maioria de nós faz – acreditamos ser essa consciência habitual e as  histórias pessoais que criamos. É preciso coragem para atender ao chamado contínuo da vida para morrer, e cada pessoa que encontramos na rua ou em cuja cama nos sentamos merece nossa mais profunda compaixão e respeito.

O bebê que fomos um dia morreu. A criancinha, o jovem que éramos, morreram. Esse adulto maduro, com seu ego, também deve morrer. Apesar da luta e da resistência ao caos; ironicamente, exatamente devido à luta e à resistência ao caos é que experienciamos a devoção e a transcendência. Através de cada pequena morte – que é vivida integralmente – aprendemos internamente que cada despedida é um reencontro; cada saída, uma entrada; cada expiração, uma morte, e cada inspiração um renascer.

. O que significou a morte de um mestre em sua vida?

Estou escrevendo um livro sobre isso. A morte me ensinou as lições mais importantes de minha vida. Ela me ensinou o perdão, a gratidão, a paciência, a seguir meu anseio por um amor mais profundo, a deixar morrer tudo que esteja no caminho e a respeito da eterna graça divina, que pode ser sentida na devoção e na quietude.

O perdão nos liberta imediatamente, permitindo-nos ser cada vez mais e a deixar morrer em nós o velho, a rotina e, portanto, tudo que é falso e não condizente com a vida, para que tudo possa renascer em um amor mais profundo.

A gratidão é a chave sempre disponível para o reino que temos. Quando nos abrimos na gratidão, é isso que o Bem reconhece em nós e ao qual somos gratos; até mesmo para o bem em nós, e o Bem só pode reconhecer isso. Olhamos para um espelho. A gratidão e a graça têm suas raízes na mesma fonte, que é o Divino.

A morte me ensinou que estamos todos interligados na consciência, não importa se temos ou não consciência disto. Se estamos em um corpo ou não, estamos sempre unidos no amor, a cada momento. Finalmente, aprendi com a morte que, embora acreditemos ser esse pequeno self separado, somos sempre permeados pelo Divino, a partir de outras dimensões além de nossos corpos, formas, palavras. Somos preenchidos por algo profundo, sagrado, e que nosso acesso está tão próximo quanto a consciência do momento presente. Isso em nós, que tudo vê, é exatamente o que buscamos.

. Por que as pessoas têm tanto medo de morrer e até mesmo de pensar sobre a própria morte? Como é que elas podem mudar seus padrões e se abrirem mais para o ’terreno desconhecido’ que encontrarão ao morrer?

Vivemos de tal forma com medo da morte que perdemos o contato com nosso ser essencial. Temos medo da morte, porque esquecemos quem realmente somos. Nosso medo da morte diminui quando aprendemos a morrer diariamente; quando, durante nossas práticas meditativas ou preces, ou através da prática diária de devoção ao divino, deixamos o pequeno e limitado self morrer em uma consciência mais vasta e mais profunda

, Quais as mudanças que você observou em nossa compreensão coletiva sobre a morte e o morrer? Para onde isso vai nos levar?

Nos últimos dez anos, a imagem de nossa cultura sobre a morte e o morrer mudou de um conceito de escuridão para um de luz. Esse é um deslocamento dramático com grandes implicações, pois as convicções de uma sociedade formam seus padrões e comportamentos. Vejo que relaxamos as estruturas mentais que temos em relação à morte, da mesm forma que o processo de morrer propriamente relaxa nossas construções mentais, permitindo-nos expandir em uma visão maior e em uma consciência mais sutil e profunda.

Acredito que nossa crescente confiança, juntamente com o potencial transformador da morte e com a consciência de que morrer é um acontecimento muito mais espiritual do que médico, permite que nos aproximemos uns dos outros, na vida e na morte, com menos medo e com maior clareza, com menos superficialidade e de forma mais profunda, com menos distância e com mais compaixão.

Dá para imaginar como seria o atendimento aos mais velhos e aos moribundos, se existisse um reconhecimento aberto de que a morte é o ponto espiritual mais elevado da vida, a porta mais disponível para se experienciar o Divino e nossa verdadeira natureza?

A morte é o portal para experienciarmos a paz e a total união com o Todo.

. Por que oferecemos acompanhamento e suporte espiritual para quem está morrendo?

Se o moribundo tiver certa abertura para encarar sua morte e olhar para sua vida no momento da morte, pode ser mais fácil para ele reconhecer a eternidade de seu Ser nessa hora, já que não existe mais futuro, esperanças e ilusões; existe apenas a realidade, momento a momento, e a urgência no coração de reconhecer algo que não é mortal. Quem está à beira da morte geralmente está bem preparado para curar suas dores de alma, para lidar com suas questões, pois perante a morte o amor passa a ser a qualidade mais importante. Nosso trabalho é de apenas estar presente, incondicionalmente, com amor, compaixão e sinceridade.

O que o moribundo mais precisa é de coragem e de apoio para entrar no coração e deixar a identificação com o corpo e a personalidade. Assim fica fácil ter uma morte curadora, pois a consciência, a alma humana conhece essa realidade. Nosso trabalho consiste em reconhecer em nosso coração ’aquilo que não morre’. Quando alguém morre em paz é uma dádiva para todos os seres. Podemos sentir nosso próprio ser imortal quando estamos ao lado de um moribundo que tem uma profunda aceitação e que morre com confiança.

. Que tipo de apoio o aconselhamento astrológico individual a Sukhi pode dar ao participante?
Ao longo da vida, a maioria dos homens perde o acesso consciente para sua alma, pois a sociedade nos ensina a desenvolver uma personalidade e a viver de acordo com as regras e os valores superficiais dessa sociedade. O resultado é a insatisfação, o estresse, a solidão e uma vida sem contato com aquilo que realmente somos.
A satisfação verdadeira e duradoura só pode acontecer quando o homem vive sua verdadeira individualidade. Com seu trabalho, Sukhi responde as perguntas essenciais do participante sobre a vida, sobre seu potencial e sobre seu caminho individual nessa vida. As respostas são fundamentadas em um profundo entendimento da alma e do nível de evolução em que a pessoa se encontra e apontam possibilidades de desenvolvimento que podem ser reconhecidas no horóscopo de nascimento.

Eu mesmo, há cerca de 25 anos, tive na astrologia as indicações de que poderia vivenciar a missão mais importante de minha vida como professor do tema ’morte’, transmitindo esse conhecimento para outras pessoas. Sozinho, talvez nunca tivesse reconhecido isso, e sou muito grato a boa astrologia por essa indicação que mudou totalmente minha vida.